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sábado, 24 de janeiro de 2009

Você é Fashion?

Você está ligada na moda? É antenada com a tendência? Qual seu designer preferido? As pessoas estão obcecadas pelo o que se usa, o que está em alta ou em declínio na onda fashion. Leitores querem, editores pedem, e jornalistas pulam em cima para anotar grifes utilizadas por qualquer um com cinco minutos de fama. Antes de sair de casa, o famoso é obrigado a conferir a etiqueta de cada peça que veste. Ai dele se não reservar boa parte de seus rendimentos pra isso, porque o modelinho escolhido pode determinar os rumos de sua carreira. Se nada ali for Dolce, Armani ou Gucci, se for um Casas Americanas, e o famoso um astro em ascensão, será atirado na fogueira pública da breguice. Já se quem estiver usando for a Contanza Pascolato, aí a escolha terá sido um exemplo de despojamento elegante! Tudo é relativo e fútil minha gente, fútil pra caramba, nesse cada vez mais vasto mundo das superficialidades. Pois esse é o lado chato da estória, a patrulha de quem segue a boiada pisoteando tudo que não agrada seu gueto de atrofiadinhos da mente - da mente que não pensa, a mente da massa que é burra mesmo, porque se pensar discorda, e aí, não cabe mais ali.

Nunca foi diferente. Uma Alemanha inteira seguiu um homenzinho de bigode durante anos, porque esqueceu de pensar por um tempo. E lá as conseqüências foram mais desastrosas do que nos campos das ditaduras estéticas. Fazer o que? Deixar estar companheiro, porque do outro lado da burrice, existe a verdade. No caso da moda, o estilo de cada um é esta verdade. E ela tonifica a mesmice

Você chega num lugar com aquele estilão só seu, e as pessoas fazem uma leitura daquilo. É uma leitura parcial claro, mas já é o começo de um encontro. O "não ligo pra isso" da contra-corrente só dificulta o início dessa comunicação, num mundo que mau ou bem, superestima a aparência. Li na revista Time que apenas 20% da comunicação humana é feita através das palavras, mesmo quando se está falando. Os outros 80% acontecem pela mímica corporal, a expressão do rosto, a entonação, as maneiras da pessoa e o que ela está vestindo, entre outros dados. Então se já anda tão difícil a gente se compreender porque ninguém quer ler os sinais mais sutis, e se isso de panos e estilos é algo bobo pra você, porque então não conceder justamente aqui onde a coisa é cada vez mais importante para tantos? Por que não? Se não dói nada, e você meu príncipe, só tem a ganhar ao escolher seu jeito dentro disso? Claro que é esquisito que enquanto explodem prédios numa ONU em declínio, enquanto caem Saddams e sobem Bushs, e que guerras mentirosas nos são impostas, o mundo se julgue através de signos tão limitados. É estranhíssimo que um mundo assim se deslumbre com passarelas de excentricidades têxteis e os peitos perfeitos de super mulheres talhadas com bisturi e dinheiro. Se você não quer compactuar com tanta contradição, é direito seu, fique a vontade. Às vezes também me revolto. Vou te contar um segredo, fútil. Eu ia fazer uma plástica sabe, pra alisar as linhas de expressão ao redor dos olhos. Pois não vou mais. Não vou! Elas que fiquem aqui mais um tempo, me lembrando quem sou. São meus choros e meus recomeços. Farei concessões na marca do jeans, na combinação das cores, em botar isso e não aquilo pra ir ali. Mas não preciso parecer ter 20 anos e assim seduzir quem não me interessa. A gente se curva onde pode, e isso também é estilo. É que modismos, peitos, Bushs e companhia, tudo isso cansa muito, e lá dentro de mim há um clamor pelas coisas como elas são. Eu quero comer pão com manteiga da fazenda de minha infância. Quero um colo de mãe bem farto e macio, e com os peitos murchos como devem ser os peitos de mãe. Cadê elas, as mães de verdade, com cara de mãe e tempo pra gente? Quero uma pra me ouvir reclamar com saudade das conversas fiadas que nunca terei. Quero de volta três horas por dia, pra não fazer nada. Quero andar de carroça com ar puro batendo no rosto. Você sabe qual a média de velocidade de um carro na cidade? 17 km por hora. Igual ao da carroça do início do século passado. Quer dizer, andamos e andamos pra chegar aonde já estivemos, e com metade do prazer. O que isso tem a ver com o mundo fashion? Também não sei meu príncipe... Responda aí você que veio comigo até esse ponto. Eu aliás, já nem estou mais aqui, estou lá no meu canto sem grife, cheia perguntas desantenadas e uma forte tendência pra lugar nenhum.

(Maitê Proença)

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