
Às vezes me pergunto por que os homens não se rebelam. A imagem que se propaga deles é a de seres extremamente racionais e infatigáveis comedores. Não que isso seja negativo, registre-se. Pensar e gostar muito de sexo passa longe da minha lista de defeitos intoleráveis. Aliás, consta da minha lista de qualidades bem-vindas. Mas os homens deveriam se rebelar, pois eles são isso, mas não só isso.
As pessoas mais românticas que eu conheço são homens. Mulheres românticas são poucas: ou estão trabalhando demais, ou ocupadas demais com os filhos, ou preocupadas demais em arranjar um cara que corresponda ao ideal de amor que elas criaram na cabeça. Onde estão as mulheres que se emocioanam com versos, as mulheres que administram suas saudades sem histeria, as mulheres que se apaixonam violentamente pela alma de um homem, e não pelo que ele representa para a sociedade? Que las hay, las hay, mas é nos homens que vejo o amor ser vivido menos amarrado às conveniências.
Nossa cultura machista encobre os homens com uma cortina de fumaça, nivelando-os como se fossem todos trogloditas. Aquele cara que você vê berrando com o juiz num estádio de futebol, acredite: é um cara que ouve Chico Buarque, que aliás, como bom representante da espécie, também adora uma pelada. Aquele outro azarando uma garota quer transar com ela, sim, mas também gosta de Piazzolla, João Gilberto, ou sei lá, do Abba, que seja, o que importa é que ele se emociona, do verbo emocionar. Homens choram, homens se arrependem, homens sonham, homens se declaram. Apenas não deixam vazar.
O rótulo de insensíveis, garanhões e calculistas só não muda porque eles não desmentem a fama ora, pega bem. As pessoas morrem de rir com suas cafajestices contadas em mesas de bar. Esta não é uma tese sociológica, psicológica ou que tenha qualquer lógica. São apenas observações de uma cronista que tem amigos bacanas, homens que não se enquadram no perfil brucutu, e que espera que eles procriem e passem o bastão para seus filhos, que um dia serão novos homens, novos mesmo. se há os que preferem (ou precisam) manter a fama de maus, como recomendava Erasmo Carlos ("ele é o bom, é o bom, é o bom"...),que mantenham. Mas por trás desta propaganda enganosa há produtos de primeira qualidade, boicotando a si mesmos ao não se permitirem ser tão legais em público quanto o são em segredo.
(Martha Medeiros)
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