
Há quem diga que o tempo não existe,que somos nós que o inventamos e tentamos controla-lo como nossos relógios e calendários.Nem ousarei discutir essa questão filosófica,existencial e cabeluda.Se o tempo não existe,eu existo.Se o tempo não passa,eu passo.E não é só o espelho que me dá a certeza disso.
O tempo interfere no meu olhar.Lembro do colégio em que estudei durante mais de uma década,meu primeiro contato com o mundo fora da minha casa.O pátio não era grande-era colossal.Uma espécie de superfície lunar sem horizontes a vista,assim eu o percebia aos sete anos de idade.As escadas levavam ao céu,eu poderia jurar que elas atravessavam os telhados.Os corredores eram passarelas infinitas,as janelas preciam enormes portões de vidro,eu me sentia na terra dos gigantes.Volto,depois de muitos anos,para visita-la e descubro que ele continua sendo um colégio grande,mas nem o pátio,nem os corredores,nem as escadas,nada tem o tamanho que parecia ter antes.O tempo ajustou minhas retinas e deu proporção as minhas ilusões.
A interferência do tempo atinge minhas emoções também.Houve uma época em que eu temia certo tipo de gente,aqueles que estavam sempre a postos prá apontar minhas fraquezas.Hoje revejo essas pessoas e a sensação que me causam não é nem um pouco desafiadora.Me pergunto como é que se explica sentimentostão fortes como o medo,o amor ou a raiva se desintegrem.Alguém era grande no meu passado,fica pequeno no meu presente.O tempo de novo dando a devida proporção aos meu afetos e desafetos.
Talvez seja esta a prova de sua existência:o tempo altera o tamanho das coisas.Uma rua da infância que exigia muitas pedaladas prá ser percorrida,hoje é atravessada em poucos passos.Uma árvore que para ser explorada exigia uma certa logística-ou ao menos um "calço" de quem estivesse por perto e com as mãos livres-,hoje teria seus galhos alcançados num pulo.A gente vai crescendo e vê tudo do tamanho que é,sem a condescendêdia da fantasia.
E ainda nem mencionei as coisas que realmente foram reduzidas:apartamentos que parecem caixotes,carros compactos,conversas telegráficas,livros de bolso,pequenassalas de cinema,casamentos curtos.Toda aquele espaço da inância,em que cabia com folga nossa imaginação e inocência precisa hoje se adaptar ao micro,ao mínimo,a uma vida funcional.
Eu cresci.Por dentro e por fora(e,reconheço,pros lados).Sou gente grande,como se diz por aí.E o mundo a minha volta,a nossa volta,virou aldeia,somos todos vizinhos,todos apertados,financeira e emocionalmente falando.Saudade de uma alegria descomunal,de uma esperança gigantesca,de uma confiança do tamanho do futuro-quando o futuro era infinito a nossa frente
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