




Amélie não é uma garota comum, apesar das brincadeiras. Ela mexe com os hábitos, conhece-os bem. Detalhista, vive cada momento. É meditativa, quieta e observadora. A eterna menina cuja inocência é séria e o romance que vive é antigo. Repleto de imaginação, de surpresas e desejos. Mundinhos particulares. Cachalote, seu peixe de estimação, era neurastênico e vez ou outra tentava suicídio. A realidade a assusta, principalmente quando pensou que cada clique de sua Kodak causava acidentes ao redor do mundo. É dentro de casa, aliás, que os arcanos começam a aparecer. Na infância, Amélie vivia isolada das pessoas.
Raphael Poulain, ex-médico militar e pai às vezes, só se aproximava quando era preciso fazer exames nela. Raphael Poulain — lábios contraídos: sinal de falta de coração.
Para completar a família, Amandine, sua mãe, tinha colapsos nervosos que só uma morte trágica nos portões da igreja iria deixá-la em paz: uma turista canadense se joga do topo do templo e cai em cima dela.
Amandine Poulain (Fouet, em solteira) — tique nervoso: sinal de perturbação neurótica.
“Os anos passam — Amélie prefere sonhar até ter idade para partir”. Sai do subúrbio e passa a trabalhar como garçonete numa cafeteria em Montmartre, o famoso Café Le Deux Moulins . Amélie gosta de procurar detalhes que ninguém vê. Não gosta de namorar, mesmo que cultive um gosto particular pelos pequenos prazeres, como:
Enfiar a mão bem fundo no saco de cereais;
Quebrar a cobertura do crème brulée com a colher;
E jogar pedras no canal Saint Martin.
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